
Por Lilian Dias
Recentemente, mais uma vez um caso atípico do mal da vaca louca no Brasil foi divulgado adoidado pela imprensa e pelas redes sociais como um fato consumado antes mesmo da divulgação do resultado oficial informado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. Lembro-me que recebi a notícia por meio de um vídeo postado no grupo de WhatsApp da Corrente da Pecuária, uma comunidade fechada que compõe uma qualificada rede de profissionais, entre pecuaristas, agrônomos, zootecnistas, veterinários, gestores de fazendas, estudantes do setor e representantes de insumos e produtos agropecuários, que se reúnem semanalmente com especialistas renomados e grandes palestrantes do nosso Agro em busca de melhorias.
– Isso aí nem devemos divulgar! – comentou um dos membros da comunidade.
Concordei. Afinal, para que causar alarde no mercado sem a confirmação? É prejudicial para o próprio setor nacionalmente e internacionalmente. Desnecessário. Um desserviço afirmar que existe a doença da vaca louca sem confirmação.
Um outro integrante do grupo rebateu.
– Estamos divulgando notícias sobre o caso. Não estamos fazendo fake news.
Discordei. Afinal, a notícia da confirmação da vaca louca ainda não existia. Existia uma suspeita, que poderia ser a suspeita de qualquer outra doença, mas a questão é que vaca louca dá notícia, traz pânico, queima o nosso filme e acaba privilegiando uns e outros no mercado.
A “notícia” da suspeita não contribui em nada e só causa alarde mesmo. E olha que sou jornalista, hein? Deveria ser a primeira a apoiar esse tipo de divulgação, mas, perceba, profissional sério de comunicação repudia a conduta sensacionalista. E uma parte da atual classe jornalística, principalmente a que não atua no jornalismo Agro, se abstêm de falar sobre o carnaval vermelho, marcado por invasões de terras, mas enaltece uma inverdade sobre a vaca louca em busca de cliques, de audiência, não se importando com a repercussão negativa para o Agro e, consequentemente, para o próprio Brasil.
A veemência sobre a falsa confirmação se espalhou feito rastilho de pólvora e culminou na explosão de alguns embargos comerciais. Mesmo que o estrago em relação ao mercado não venha a ser impactante, a imagem do setor e do País ficam arranhadas. E aí, meu AgroAmigo, minha AgroAmiga, até provar que focinho de porco não é tomada, dá-lhe explicações, burocracia e dor de cabeça.
Não estou defendendo aqui a omissão da informação, mas alertando sobre a forma de comunicar, que deveria ser, no mínimo, um pouco mais responsável. Lembrem-se de que muita gente, por interesses escusos, adora contar um conto para aumentar um ponto. O ideal seria ter aguardado o resultado, antes de afirmar uma inverdade, e, paralelamente, cuidar para que a tal doença, seja ela qual fosse, não se espalhasse para outros animais.
Porém, na contramão do bom senso, prevaleceu a negligência na comunicação. Basta fazer uma consulta no Google. Muitas mídias manchetaram de forma afirmativa a existência do mal da vaca louca no Brasil, repito, antes mesmo da confirmação de que se tratava, mais uma vez, de um caso atípico. O que não parece atípico é essa mania da mídia convencional afirmar o que não é real sobre o Agro em busca de audiência, do famoso clickbait, que significa caça-cliques.
Entretanto, o mais triste mesmo, que pesa e dói no coração, é que veículos de comunicação do nosso próprio setor também divulgaram a notícia de forma sensacionalista. Das duas uma: ou se trata de um jornalista inexperiente e sem noção ou parte da nossa mídia especializada no Agro também entrou na loucura, ou seja, na insana disputa por cliques, dando de ombros aos interesses de toda uma classe produtora de carne bovina.
Então, se até a mídia especializada trata do tema com falta de zelo, os inimigos do Agro não precisam mais gastar energia e podem dormir tranquilos porque a própria comunicação do setor está fazendo o serviço sujo deles. A pergunta que fica é:
– Até quando a nossa comunicação no Agro vai continuar falha? Vai continuar dando tiro nos próprios pés?
Resumindo: a vaca continua sã; louca mesmo, é a nossa mídia.
Lilian Dias é comunicadora Agro, possui MBA Executivo pela ESPM, com foco em habilidades de gestão de pessoas, práticas de liderança e marketing. É autora do e-book "Os Pilares do Agronegócio". Site: www.novoagro.com.br - Instagram: @novoagrotv – Youtube: https://www.youtube.com/novoagrotv – E-mail: novoagro@ novoagro.com.br
Positivo e lúcido o artigo de Lílian.
Parabéns Lilian pelo oportuno e sábio artigo. Gostei demais!Um enorme engano foi este protocolo assinado com a China a respeito do tema. Cordialmente
Sebastião Costa Guedes.
Concordo com a Sra. Lilian Dias a nossa imprensa e muito sensacionalista, será que não dava para esperar um pouco mais para falar sobre este assunto com maior responsabilidade a qual o cabe.
Ruy Lima
Concordo. Isso são pessoas inconsequentes Assim como a vaca louca, a mídia bombardeia a nossa Agro com o leite, pastagens, carbono etc... Poderia escrever uma redação de como nao concordo e poderia provar cientificamente ao contrario, tornando a noticia um fato os absurdos dito pelo nosso propio governo e demais jornalistas inconsequentes, mas o fato e: eles nao tem como fazer o mesmo, nao são fatos , nao tem base cientifica e so jogam essa "sujeira" pra causar distúrbios e barulho. Isso nao so fere o nosso pais como também o mundo. Afinal de contas alimentamos quase metade da população mundial.
É a mais nova maneira de ser (fofoqueiro).
Deixando as brincadeiras de lado, oque podemos esperar de uma mídia sem medidas?
A informação séria tem muita e faz muita diferença.